4 de jun. de 2011

Pra dizer até logo



No meio da densa fumaça que sempre o cerca, ele temeroso segura seu cigarro, com os dedos cheios de anéis, a ponta das unhas amareladas, esboçando um francês pré ensaiado e um pouco ameaçador. Ele não para, o frenesi faz parte do seu ser. É estranho pensar que assim ele me tranquiliza.
Ele não vê como eu vejo, não sei se pela obrigação imposta pelas suas lentes, ou pela dor que o acompanha escondida atraz de uma Lomo amadeirada. Gosto de pensar nele como um cigano, desses que as vezes assustam a gente na rua. Ele bebe, ele grita, chora e estranha. É como se por dentro ele balançasse entre o ter e o não ter um coração. Sua fuga é a noite, onde ele tem certeza de todas as guias, todos os bares e nunca se cansará de olhar pra cima na esperança sempre frustrada de encontrar uma estrela.
Quando vejo ele, se misturando com as luzes da rua, meio ocre, olhando atravez do copo de cerveja, sei que ali ele pode amar. Ciganos não têm permissão para amarem em qualquer situação. Então ele só ama quando está anestesiado. E eu queria segurar ele pelas mãos, e dar uma volta por aquelas ruas que já são dele. Queria poder mostrar que aqui a gente não tem estrelas, mas que se tivessemos, elas desceriam até aquela esquina, pra brindar o amor dele. Que todas as coisas do mundo esperam anciosamente pelo dia em que ele as irá olhar, e registrar, e pensar nelas. Eu espero por esse dia também.
Queria dizer que o amo. Queria pedir pra ele ficar. Mas virei meu copo, com qualquer bebida doce demais pro meu espirito, deixei uma lágrima pingar na mesa, e fui embora, sentindo um cheiro nauseante de qualquer coisas misturada com dor.

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