23 de dez. de 2010

Dos Medos de Escuro



Notei as pontas dos meus dedos (médio e indicador) bem amareladas. Pensei em parar de fumar, mas me decidi por apenas pintar as unhas de preto. Preto. Aos poucos você se acostuma com a escuridão. O negro dos olhos da mulata não assusta o sambista, que mesmo em trajes alvos, lembra com orgulho de sua mãe África.
O luto, por exemplo, nunca me impressionou. Eu mesma não conheço uma solidão preta, pra mim, todos os tipos de tristesa são brancos. E a mim, a solidão se mostra triste. As vezes sou sozinha, então me imagino angolana, descalça na rua, a dançar qualquer música de rua. Imaginar também é triste. É diferente de sonhar. Quando se sonha, de fato se acredita, se ilumina a alma. Quando só imaginamos, é como um sonho com defeito. É um sonho sem esperança. A solidão é também um pouco sem esperança.
Mas volto para minhas unhas, algumas roídas, esmalte gasto, vermelho e já bem velho. O cigarro apagou, a fumaça azul ainda pinta o quarto indo de encontro com os últimos suspiros do sol. Abaixo os olhos novamente. O que me incomoda mesmo é esse frio nas mãos.