28 de nov. de 2010

Paralisia Visual



Gritei o mais alto que pude. Berrei e esperniei por cada poro de minha pele. Tudo isso em um segundo, sem que tu notaste. Nem sequer soubeste da minha presença. Eu estava lá, invadindo teus sonhos, forjando teus livros, sumindo com o açúcar do teu café. Tão ligeira, que tu apenas deixaste cair um copo quando bati o portão do lado de fora.
Eu já era invisivel aos teus olhos antes, mas tu sempre foste meio dado as cegueiras da alma. Outro dia soube de um moço morto por ser cego da cabeça e seco do coração, tive medo de que pudesse acontecer contigo desgraça igual. Então roubei os óculos de meu avô, e deixei em nossa antiga estante, bem em cima de Felicidade Clandestida. Mas acho que não me ouviste muito bem.

7 de nov. de 2010

Outro Adeus


Ah, menina, mas uma vez te pergunto: por que tu foges? Acaso não gostas quando te chamo de bonita? Assim, sempre correndo, mal tive tempo de memorizar teu rosto, tuas linhas, tuas ancas. Minha bonita, que nem chegou a ser minha, mas que a beleza não se pode negar. Bem sabes que não te prometi assassinar o passado, mas o plano era renascer em ti um futuro.
Se bem me lembro, a luz que atravessava a cortina desenha flores em tuas pernas. Eu quis rir. Mas não ví graça. Mordi os labios, como que para segurar a dor de minha premonição, mas sem entender, tu estavas a repetir meus gestos. Em algúm lugar uma porta bateu. Senti um arrepio na nuca, tu partirias em poucos segundos.