11 de fev. de 2011

TunTunTá



Pela primeira vez me vi diante de tanta beleza. Não como se pode dizer da maneira convencional. Mas quando um tipo de malemolência sinestésica te faz balançar entre o ontem e o hoje. Diante dos meus olhos vi você. Você, seus cabelos molhados, o azulejo velho do banheiro. Vi, mas nada disso existia hoje.
As lembranças do nosso velho banheiro. Do vidro quebrado, das paredes mofadas. A lembrança dos seus olhos tristes, do seu riso forçado. Sua pele toda de uma tez clara, uniforme. A água fria que descia negra pelos seus cabelos. Lábios arroxeados. Rejunte com bolor. Frio.
Essa lembrança inebriante se fixou diante de mim, gritou pra mim, me fez prever um passado que nunca existiu. Eu amei seu esmalte descascado. Pelo menos teria amado se soubesse que disso dependiam todas as manhãs seguintes.
Dentro de mim senti um leve perder dos sentidos, pendi. Senti um leve perder de você. T-T-T-T-T. Você repete no meu ouvido direito antes de se enxugar. T-T-T-T-T. Sua canção favorita. T-T-T-T. Seu cabelo no meu ombro. Agora não me lembro, se foi uma gota, ou uma lagrima que mergulhou no meu colo. T-T-T, assim meio que morrendo entre esse e aquele suspiro.
Procurei respostas pra perguntas que eu nem ao menos tinha formulado. Procurei deseperadamente por você naquelas vozes abafadas. Nas minhas memórias de madrugas frias. Nas peles quentes. Na água dura. Todas elas. A sua canção favorita era um jazz improvisado, era uma carta de adeus.