19 de jul. de 2010

Autobiografia

E então ela continua no mesmo lugar, de mãos atadas e esperando o próximo dia. Sentada, ou talvez esquecida, em um canto da praia, fingindo prestar atenção ao festival de cores no céu. Ela não está realmente lá. Mas guarda isso como seu maior segredo. Todos podem vê-la, e mesmo assim, ela não está lá. Poderia encontra-la em qualquer outro quintal, tentando fazer poemas com a acidez do sol, mesmo no inverno. Sempre com o cabelo amarrado para que o vento frio possa gritar, estridente, em seus ouvidos.
Se ela soubesse como, escreveria uma carta de amor com aquele mar. Falaria do horizonte geométrico que encontrou do outro lado do Equador, e só. Nada além do que já foi previsto em qualquer outro tarot, tantas vezes lido, que ninguém sabe mais o que dizer. Nada.
Atrás dela um corvo grita, como quem quer alertar de que apesar do calor já é tarde. É melhor colocar seus óculos escuros no meio da noite para continuar sendo invisível no meio da multidão que vem caminhando.
She probably doesn't know what she's thinking.