10 de jan. de 2010

"Fél bebei por leite"

Aquele meio prazer lhe penetrava a alma com gosto de vida. Que vil criatura lhe daria tamanha glória lhe privando do gozo?
Não sabia que assim morria, pois já era doce morrer. Não dessas mortes que a gente vê por aí. Morria hoje de desgraça vestal, da doçura das cinzas do seu amor.
Amor esse que não inteiro, cedido pela medade. Incapaz de saciar a menor das sedes. Era de sede também que morria.
Sem medo da medusa que lhe olhava friamente, prendia o grito de dor, e só.

6 de jan. de 2010

Colecionadora

Perplexa. Assim estava ao olhar para aquela parede. Há quem colecione moedas, insetos, selos... Porém, nunca se tinha visto algo como aquilo. Corações, milhares deles, despedaçados e pregados em uma enorme parede já manchada de vermelho. Milimetricamente alinhados, como um exército chines, porém sem voz, sem vida.
Quando criança só queria colecionar flores de cerejeira, sempre se perguntando onde conseguiria tantas dessas flores. Agora se questionava onde conseguiram tantos corações. Até onde chegaria a crueldade dos adultos?
"O que alguém faria com tantos corações?" Isso não saía de sua cabeça. Não conseguia se dar conta de que há muito tempo nenhum batia dentro dela, vivia só daquela parede, que nem sua sabia que era.