6 de ago. de 2010

Assassinato

Te matei. Te enterrei, levei até flores no teu túmulo.
Chorei, foi uma morte lenta, dolorosa. Mas que só doeu em mim.
Não porque te amava, mas porque te admirava. Porque queria ser você. Foi como quando John Lennon morreu, lembras? Mas tu ainda vives. Em algum lugar, talvez naquelas ruas escuras e frias que frequantávamos. Não me perguntes por que fiz isso. Fiz pois tinha de ser feito. Foi como terminar com a noite para que o dia chegasse.
Assassinei-te pois eu tinha fome de vida. Tinha ânsia de felicidade.
Chorei, mas agora posso sorrir. Foi simples assim. Não, na verdade foi difícil. E ainda espero poder sorrir.
Não tinha sangue em minhas mãos, mas mesmo assim lavei cuidadosamente cada pedaço de unha em meus dedos. Por outro lado não fiz questão de apagar as provas deste crime.
Expulsei tua alma da minha sala. Rasguei nossas fotos. Bebi nossas cervejas.
Quando te tinha em minhas mãos, olhei firmemente em teus olhos, prendi o choro, e cravei em ti todo meu ódio. Quem sabe até todo meu amor.
Te asfixiei, e não espero que me perdoes. Se por um segundo tu vieste a virar um fantasma, sei que não irias me procurar.
Agora me resta apenas alguns dias de luto, e um maço de cigarros que trouxe do outro hemisfério.
Te matei dentro mim, e só agora posso viver.

Um comentário: